sexta-feira, fevereiro 15, 2008

Transposição - Necessidade Técnica ou Obra Eleitoreira?

Segue abaixo um manifesto escrito pelo ex-governador de Sergipe, João Alves Filho:

O Governo Federal insiste em começar o mais rápido possível,as obras de Transposição do Rio São Francisco,que levará águas bombeadas para os Estados do Ceará,Paraíba, Rio Grande do Norte e Pernambuco.
A grandiosa obra terá 700 km de canais de concreto,com 25 metros de largura e 5 de profundidade, 30 km de de aquedutos e outros tantos túneis atravessando regiões com grandes acidentes geográficos.
No entanto, muitos questionamentos em relação à viabilidade da Transposição não são respondidos pelos políticos e técnicos do governo.
Vamos relacionar algumas delas.O custo que o governo afirma ser de 6,6 bilhões, previstos no PAC, é contestado pelo Professor e Pesquisador João Abner, especialista em hidrologia e irrigação da Univ.Fed. do Rio Grande do Norte.Segundo o professor, o custo da obra principal com distribuição de água à população não sairá menos de 20 bilhões, valor confirmado por especialistas do CREA.
O Pesquisador João Suassuna, da Fundação Joaquim Nabuco,afirma que o sistema de bombeamento absorverão,no volume mínimo - 26 m³/s, 500MV(Megawattes), o equivalente à geração de uma vez e meia a usina de "Três Marias", que gera 380 MW.Imaginem o custo dessa energia, diariamente, e no momento em que o país está préstes a ter um apagão por falta de energia elétrica!
O coordenador do Projeto Jaíba, Alberto Daker, ex-professor da Univ. Fed.de Viçosa, especialista na área, disse:"bombear este volume de água a 165 m de altura torna qualquer projeto inviável".
Está na mesa do presidente Lula,há bastante tempo, o ATLAS NORDESTE, elaborado pela Agência Nacional de Águas - ANA, Órgão do próprio governo, que apresenta estudos e dados levantados ao longo dos anos,propõe soluções viáveis, imediatas e definitivas para resolver o problema de abastecimento de água em todo o Semi-Árido.São soluções com base em estudos e experimentação de campo, a um custo muito menor.
Enquanto na Transposição serão gastos R$6,6 bilhões (ou 20 bilhões pelos especialistas) atingindo quatro estados do Nordeste - PE, PB, RN e CE, atendendo 391 municípios e beneficiando 12 milhões de pessoas, o ATLAS da ANA gastará R$ 3,3 bi, atingindo os 9 estados do Nordeste e o Norte de Minas Gerais, atendendo 1.356 municípios, beneficiando 34 milhões de pessoas (dados do Eng° Agrônomo Roberto Malvezzi, Assessor da Comissão Pastoral da Terra - 2007).
As soluções da ANA são técnicas, nada mirabolantes ou megalomaníacas. São constroções de poços artesianos num dos maiores aqüiferos do Brasil, que está no Nordeste, uso de água das grandes represas, tratamento de águas salinizadas, construção de cisternas e reuso de águas servidas.
O pesquisador João Suassuna, na Audiência Pública da Comissão de Meio Ambiente da Câmara, usou um argumento incontestável em favor do projeto da ANA e contra a Transposição:"O potencial hídrico do Nordeste é de 37 bilhões de m³ de água e a capacidade volumétrica dos principais açudes do Nordeste Setentrional é de 11,4 bilhões de m³.Ora, o volume da água bombeado, anualmente, pela Transposição será de 400 milhões de m³(26,4 m³/s) ou seja, apenas1% do potencial hídrico existente e 3,5% da capacidade dos açudes".
E conclui:"o recurso hídrico existe em cada estado nordestino, faltando apenas seu gerenciamento para atender as necessidades do povo.É importante explorar o que está disponível, revitalizar a bacia do São Francisco para então usufruir suas águas".
As incertezas e a falta de respostas colocam,praticamente,toda a comunidade científica a se pronunciar contra a Transposição.
Então, por que o governo quer a obra a qualquer custo?
Pode ser por falta de conhecimento, ou por falta de oportunidade ou interesse em um debate maior onde serão ouvidos os especialistas no assunto, técnicos e pesquisadores, e ter coragem de "ser uma metamorfose ambulante" e mudar de idéia.Pode ser por influência de políticos do Nordeste e duas dúzias de empreiteiras que estão"lambendo os beiços".Ou pode ser um projeto suspeito, eleitoreiro,em que,se concretizado, não faltarão recursos para financiar campanhas para presidente,senadores,deputados e uma fonte imensa de recursos,por muitos anos,para sustentação de partidos políticos, feito pelas empreiteiras e os votos dos nordestinos, é claro.
Existe uma pressão sobre aqueles que são contra a Transposição,´pois são taxados de "contra os nordestinos";"negam uma caneca de água para os que sofrem com a seca";"contra os pobres";"elite" e outros jargões que o brasileiro conhece bem.Por isso ficam quietos o Governador e os políticos mineiros.
Mas na garganta do governo existe um "espinho" atravessado, chama-se Frei Luiz Flávio Cappio.Franciscano,Bispo de Barra - BA, de elevada cultura, formado em Filosofia, Teologia, Ciências Econômicas, Contábeis e Administração, que há 32 anos vive os problemas da população do Semi-Árido e do São Francisco, e, como ninguém, conhece as soluções para a região seca.Radicalmente contra a Transposição, o Bispo Cappio é a esperança de que a população tome consciência e faça protestos e manifestações para que o presidente pare e reconheça as reais nacessidades da região.


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Transposição, Francisco.

Um comentário:

Henrique Simonini Ribeiro disse...

Este texto foi desenvolvido pelo Professor Nelson Fernandes Maciel, especialista em energia, ex-professor da Universidade Federal de Viçosa e Diretor-presidente do CPT - Centro de Produções Técnicas escrito em 25/11/2008 (http://www.cpt.com.br/ponto_de_vista/323/transposicao---necessidade-tecnica-ou-obra-eleitoreira?.html)